sábado, 20 de setembro de 2014

As três fulanas tristes.

Corri para chegar na Universidade ontem. Eram dezenove horas e eu ainda estava na integração, esperando o ônibus. Estava com uma puta crise alérgica, não iria aguentar um ônibus lotado em meio a um congestionamento. Esperei pelo ônibus do bairro que demora muito.
Quando finalmente o ônibus apareceu, cheirando a borracha queimada e óleo diesel senti uma vontade absurda de voltar pra casa. Mas eu não podia, tinha atividade pra entregar. Gastei muito tempo googlando palavras chave para descobrir que filme era aquele que a professora passou na aula passada. Gastei muito tempo escrevendo a mão uma síntese para desistir ali, só porque o ônibus cheirava a borracha queimada e óleo diesel, só porque minha crise alérgica ia piorar.
Na hora de subir no ônibus aproximaram-se da porta três mulheres: Todas altas, duas loiras e uma morena cujo cabelo chegava na bunda. Todas magras, magras e magras. Pareciam anoréxicas de tão magras. Vestiam calças jeans caras, portavam bolsas caras.
Na porta do ônibus só tinha eu, que vestia uma bermuda curta, calçava minha sandália Ipanema cinza, vestia a primeira roupa que vi no guarda roupas e portava minha mochila lilás comprada em um dos "camelódromos" de João Pessoa.
Esperávamos as pessoas descerem do ônibus para que pudéssemos entrar.
Uma das loiras dizia: "É porque sabe que eu não gosto desse tipo de gente, eu odeio piriguete, gosto tanto de piriguete. Tem nem vergonha de andar assim. E ainda anda com um viado a tira colo, coisa linda. Vai ser uma mulher direita e deixa de andar com as pernas de fora, sua puta, vai ajeitar esse cabelo de bucha que tu tem".
Ao longe, uma mulher negra olhava pra loira que esbravejava insultos. Ela estava calada. Supus que a confusão era com ela, já que ela vestia uma bermuda um pouco mais curta que a minha. Quando a loira calou ela disse: "Mulher, melhore" e saiu em direção a outra plataforma de ônibus.
O problema tinha sido gerado porque a mulher negra estava no meio do caminho da loira que corria desesperadamente pra pegar o ônibus que às dezenove horas não carrega mais que dez pessoas. A loira esbarrou na negra e a culpa é da negra, que estava no meio do caminho da loira que estava atrasada pra universidade.
Imediatamente olhei pra mim, "com as pernas de fora". Eu estava cansada do dia exaustivo que tive. Não iria pra universidade de salto  alto. Me senti piriguete ali, na porta do 517. Subi no ônibus e fui chamada de gorda, pq sentei no lugar que ela queria sentar. Ela pensou que eu não ouvi, mas eu ouvi. A loira chamava a todo instante a outra de cabelo de bucha. O cabelo da loira estava com as raízes pretas, com as pontas quebradas que não via um corte a meses. O cabelo da negra era todo cacheadinho, cachos lindos, bem hidratados, enfeitados com uma borboleta cheia de strass. Pq o cabelo cacheado da moça negra era de bucha, se estava claramente bem mais cuidado que o da moça loira? Meus cabelos são alisados, num corte curtíssimo. Mas ontem eles estavam lavados, presos. Me senti cabelo de bucha, pois nem tenho tanto tempo assim pra me dedicar aos meus cabelos.
A viagem seguiu. E eu me sentia insultada a cada instante que a loira abria a boca. Ela conversava com as outras e a cada minuto saia uma palavra do tipo "neguinha" ,"viado", "baleia".
Acho que ela e as amigas não tem espelho em casa. Ou o espelho é igual aquele da Rainha má da Branca de Neve, que só diz o que elas querem ouvir.
Desceram numa parada de ônibus de frente a uma faculdade particular, que nem é tão boa assim. Quando desceram falavam de uma fulana colega de turma delas, que não pintava as unhas.
Achei tão tristes aquelas três mulheres. Tristes, miseráveis. Não as insulto, mas é o que elas são. Carecem de amor no coração. Precisam a aceitar quem são e como são, principalmente aquela loira. Aquela loira precisa de uma evolução espiritual urgentíssima. Tive tanta pena delas.
São tão tristes aquelas fulanas...

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